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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O mar de lama do pensamento no Brasil



A cada dia que passa, mais e mais chego à triste conclusão de que o Brasil é um país cujo futuro será dos piores, assim como o presente já é de caos. Não preciso frisar que tenho a mais profunda repugnância por aquele sentimentalismo telúrico, ufanista e adulador, conhecido por borrifar platitudes, tais como “o Brasil é o melhor país do mundo” (qual a base empírica dessa sandice?!; todo imbecil que profere tal sentença deveria ser obrigado a fazer um curso de Geografia e estudar, sobretudo, o significado da avaliação do IDH) ou “o Brasil é o país do futuro” (sempre do futuro, jamais do presente!). No geral, o brasileiro é cordial e quem leu Sérgio Buarque de Holanda com atenção, sabe o quão essa cordialidade é prejudicial, portanto, os arroubos de boçalidade tropicana e pueril, não chegam a surpreender. O pior e mais angustiante é notar como, apesar dos avanços institucionais da democracia no país - obtidos graças ao pouco que temos de intelectualidade e progressismo em nossos quadros políticos e sociais - a ausência de cultura democrática ainda predomina nos meandros do cotidiano. Esse aspecto é uma chaga cuja propedêutica talvez jamais venhamos a conquistar. O mal referente ao completo desconhecimento sobre o conceito de liberdade é um tumor profundo na mente do brasileiro comum e os historiadores dos Annales já mostraram como é lento o processo de mudança das estruturas de pensamento de uma sociedade. Um dia desses, envolvido numa discussão sem maior importância dentro de um fórum virtual, um sujeito tosco e totalmente desprovido de polidez, já conhecido por sua deplorável falta de argumentação, reclamava que eu não respeitara sua opinião. Santa ignorância! Esse indivíduo, mais um anônimo na multidão, como tantos outros brasileiros, sofre da doença que confunde falta de liberdade para opinar com direito alheio à discordância. Moléstia já há muito erradicada em sociedades verdadeiramente livres, mas autêntica pandemia na terra do lulismo petralha. Será que tais pessoas não conseguem perceber o óbvio e o elementar, ou seja, o fato de que qualquer um é livre para emitir sua opinião, desde que não calunie, não difame, não ataque a honra de outrem, mas que ninguém é obrigado a concordar com tal forma de enxergar as coisas e que uma opinião contrária pode e até mesmo deve ser dada? Não, eles não percebem que falta de respeito com suas opiniões haveria, caso lhes fosse arrancado o direito à opinião! Eles podem e devem opinar, eu posso e devo discordar! Óh grande Voltaire, que afirmou: “sou totalmente contra o que você diz, mas defendo inteiramente o seu direito em dizê-lo!” Como faz falta um pouco de Iluminismo nesse país! O senso comum do brasileiro, mais superficial do que o da maioria dos outros povos, faz com que ele acredite cegamente que democracia seja o mesmo que ditadura da maioria (Tocqueville é leitura marginal nas universidades brasileiras, muitas delas antros do socialismo revolucionário em pleno século XXI!) ou, o que é mais grave ainda, o faz pensar que sua opinião é uma imaculada e sacrossanta relíquia, que jamais deve ser posta em discussão (ora, para que debater, não é mesmo?!), crença típica do iberismo herdado dos tempos coloniais, que vê na discordância de ponto de vista, um ataque à pessoa que opina. Não é à toa que tal tipo de sujeito invariavelmente descamba para argumentos ad hominem, pois incapaz de operar com base na lógica abstrata da racionalidade e da impessoalidade, característica das sociedades livres e modernas, ao contrário, parte sempre em direção à questão da honra, como ocorrem com as sociedades arcaístas e tradicionais.
Começa a trovejar no exato momento em que escrevo essas linhas, som que me faz lembrar do futuro de tormentas dessa nação miserável, citado no início do texto. Um dia eu vou embora do Brasil!

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