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terça-feira, 14 de julho de 2009

Cultura: recorrendo ao Iluminismo

Toda prática cultural deve estar constantemente sujeita a ser revista, repensada e, caso chegue-se à conclusão de que essa mesma prática impõe prejuízos de ordem física, moral ou material a qualquer criatura que habite o universo, deverá também ser deixada definitivamente de lado e passada a ser considerada ato desnecessário, cruel, violento, passivo de punição a quem quer que o empreenda.
A máxima do parágrafo anterior expressa um princípio da ética iluminista. Segundo essa filosofia, fazendo alusão a Kant, um dos seus principais expoentes no campo ético, existem imperativos categóricos que se fazem necessários para a convivência profícua entre os seres humanos e outras formas de vida em nosso planeta, ou até mesmo em outras galáxias. Um imperativo categórico é um princípio universal que está acima de diferenças culturais e que prevalece sobre essas em caso de prejuízos decorrentes de uma determinada prática cultural. Nas palavras do próprio Kant, um imperativo categórico é o mesmo que moralidade, o agir de tal maneira que a máxima da tua vontade possa valer sempre, ao mesmo tempo, como princípio de legislação universal. É um dever interior, daí sua íntima relação com a ética.
Para Kant, como para qualquer iluminista, vale a ideia fundante de que não é pelo simples fato de uma prática cultural existir, que isso faz da mesma algo a ser tolerado. Um iluminista sempre se norteia considerando a diferença fundamental entre validade e funcionalidade, invariavelmente procurando contestar um tipo de funcionalidade cuja prática seja geradora de danos a outrem.
Desde o século XVIII, o Iluminismo vem mostrando que práticas como o sacrifício, a ordália, ou o canibalismo são absolutamente condenáveis porque ou legam prejuízos gigantescos a vítimas que na maioria das vezes são totalmente inocentes, ou promovem a barbárie, quando não ambos os aspectos, fatos que invalidam tais práticas. Hoje em dia, a imensa maioria das pessoas condena atos dessa natureza, excetuando-se uma meia dúzia de gatos pingados pós modernos, mais afeitos aos holofotes do que à reflexão, que erguem o ídolo de barro do relativismo na ilusão pueril de que assim estão agindo como os paladinos das diferenças, nem ao menos dando-se o trabalho de pensar se essas se justificam e a que preço. Para esses, não há imperativos categóricos, não há ética. Deixemo-no-los de lado, uma vez que o desprezo é o melhor remédio contra essa estirpe.
Uma reflexão filosófica que ainda falta para muitas pessoas é condenar o sofrimento imposto aos animais, do mesmo modo que já condenam as vítimas humanas. Esses dias, numa sala de espera, eu estava a folhear uma revista quando me deparei com uma matéria sobre o turismo na Espanha. A atriz Andréa Beltrão dava dicas sobre a cidade de Sevilha, elencando dez motivos para se visitar a mesma. Me revoltei logo no primeiro deles, no qual Beltrão citava as touradas! Segundo a atriz, o que se presencia na arena, é um belo espetáculo! Uma pessoa em sã consciência não pode afirmar um absurdo como esse. Deplorável! Beltrão defendeu ainda que "apenas na hora do sangue" a coisa ficava feia. Claro, então quer dizer que o touro é provocado, humilhado, espetado e só o choque visual causado nas pessoas pelo sangue do animal, depois de lhe ser imputado um sofrimento atroz e absolutamente gratuito é que importa?! É o cúmulo! A partir do que li, farei campanha contra qualquer peça de teatro, filme ou programa de TV em que essa atriz estiver envolvida. Andréa Beltrão nunca mais!
Que se dane a prática cultural espanhola das touradas! Para o inferno com as baboseiras do tipo "é uma honra para o touro ser morto pelo toureiro"! Ridículo, ridículo! O fato, nu e cru, é que o animal é submetido a uma tortura vil, selvagem, dantesca, sem a menor razão de ser. É inacreditável que um país civilizado como a Espanha mantenha até hoje uma prática que cause tamanha dor e intenso sofrimento. É execrável uma pessoa que ache uma tourada algo digno de ser apreciado.
O imperativo categórico do respeito à vida e aos animais é o princípio a ser seguido nesse caso, como em tantos outros. A filosofia iluminista é o refúgio contra todos os tipos de opressão.

terça-feira, 7 de julho de 2009

O público, o privado, o aviltamento político. A cara do Brasil!

O time da zona Leste é o campeão da Copa do Brasil. Parabéns Mano Menezes, excelente técnico! Agradeçam os vitoriosos, além de seu técnico, também à arbitragem que, na finalíssima, mais uma vez não deixou de errar a favor da equipe incolor. Tudo isso faz parte do futebol, mas é o que ocorreu fora do gramado na semana anterior, que mostra claro sintoma da doença que esse miserável país sofre já há muito.
O presidente da República recebeu a equipe campeã em Brasília, colocou a faixa no peito e ergueu a taça, abriu um largo sorriso e fez chacota dos adversários. O presidente da República, em pleno dia de semana, de terno e gravata, atuando no melhor estilo "churrasco dominical", deleitando-se com sua paixão clubística, algo que Lula tem total direito de possuir e manifestar..., desde de que estivesse, de fato, fora do expediente. Lula manifestou um gosto privado em momento no qual exercia o papel da figura pública do presidente. Não é função presidencial receber uma instituição privada para enaltecer sua vitória, simples constatação. A paixão futebolística do CIDADÃO Lula, nada tem a ver com aquilo que um PRESIDENTE tem como atribuições. A tarefa do presidente é governar de maneira a atender os interesses de TODA a população. Politicamente, Lula não consegue realizar essa meta por uma série de razões complexas que não cabe discutir no presente artigo. Manifestar deliberadamente uma preferência privada, enquanto atua como figura pública, é um equívoco primário, uma lambança grosseira, um aviltamento político! É típico do PT, sempre foi, não chega a surpreender. O povo brasileiro merece, colocou "Lula Lá", o reelegeu! O problema do Brasil, sempre foram os brasileiros.
Aquilo que provoca mais ira e indignação é o modo como até mesmo pessoas esclarecidas são absolutamente míopes quando analisam o episódio. Em programa da ESPN Brasil, João Carlos Assunção e Silvio Lancelotti, afirmaram que Lula não fez nada de errado, pois, segundo ambos, o brasileiro tem preconceito contra quem veio de baixo, não perdoando a atitude de gente simplória. Uma análise que consegue superar tudo o que há de mais ridículo! Em primeiro lugar, o problema do brasileiro é justamente o oposto, isto é, não se valoriza o mérito, preferindo tecer loas a quem sobe vindo de baixo, seja como for, exceto devido a esse mesmo mérito, o que seria a única forma digna de elogio. Todos sabem que não foi o caso do presidente. Segundo, até quando será legítimo evocar a origem "humilde" (entre aspas, porque o significado de humildade é outro) de alguém para atribuir à tal uma virtude inata? Isso não passa de uma genuína mistura tupiniquim entre politicamente correto e sentimentalismo barato. Lixo! Finalmente, o erro de Lula, nada tem a ver com a questão econômica de sua origem social. Levar tudo para esse lado classista é bolchevismo. Mais lixo! O equívoco do presidente da República se deu pelo simples fato de misturar público com privado, velho mal da coxa democracia verde e amarela. Será possível que mesmo entre aqueles que possuem bom nível de esclarecimento ainda há quem não enxergue que essa indistinção é um dos fatores básicos que solapa as bases da cidadania nesse país?! É mais do que óbvio que essa prática desregula por completo a responsabilidade que os cidadãos devem ter quando se considera o âmbito de seus direitos e deveres.
As portas já estão abertas para que Lula ajude seu time de coração na construção de um estádio e para que modernize sua estrutura. Como cidadão palmeirense, que paga imposto, meu dinheiro servirá para que o clube rival fique mais forte e passe a ter casa para jogar. O contribuinte são paulino, santista, flamenguista, cruzeirense..., até mesmo o torcedor da Francana ou do IV de Julho de Piripiri, cidade piauína, uma das mais pobres do Brasil, todos eles, estão envolvidos nessa empreitada para ajudar o time do Lula. Ora, que mal há nisso?! Deixem o "hômi" trabalhar!
O time da zona Leste, Lula, a nossa política e a visão de mundo de boa parte dos brasileiros, fora de foco, são todos sintomas do atoleiro brasileiro. Tudo isso é a cara do Brasil!

*PS: Lucivaldo, meu caro aluno, caso queira fazer comentários sobre futebol nesse artigo, está totalmente em aberto. Recusei o comentário no texto anterior, já que não tinha a ver com o teor do que estava sendo discutido.