Protected by Copyscape Original Content Checker

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Dilma e o cinismo


Ao contrário da maior parte dos quadros de seu partido, a presidente Dilma Rousseff, se considerarmos o primeiro ano e meio de seu mandato, parecia ter um estilo de condução política bem menos afeito ao cinismo e mais preocupado em trilhar caminhos mais austeros e pragmáticos. Não, é evidente, que essa postura de cunho até certo ponto racional garantisse características dignas de elogio ao governo de uma petista, pois a excelência administrativa e política jamais passou pelas intenções de um partido liderado por nomes como os de Lula, Rui Falcão, Tarso Genro e José Dirceu, entre outros tantos políticos de formação claramente autoritária, mas pelo menos se apresentava como mecanismo de comunicação nem tão atrelado ao populismo messiânico recheado de hipérboles e metáforas, como na época do presidente anterior. Ainda que elíptica, fachadística e lacunar, a retórica de Dilma foi muitas vezes bem mais aceitável do que a de Lula.
Esse posicionamento low profile, todavia, foi abandonado nos últimos meses e a presidente vem lançando mão de discursos que, se (por enquanto) não podem ser comparados ao estilo tipicamente histriônico de Lula, sem dúvida alguma se tornaram tão cínicos e prepotentes quanto os de seu antecessor. A bem de verdade e pensando com mais minúcia, a coisa nem poderia se manter diferente por muito tempo em se tratando de um governo construído a partir de orientações ditatoriais e gramscianas.
Depois de ter se acostumado a adoçar os ouvidos e atender às vontades do empresariado ligado ao poder ao mesmo tempo que atira pedras no pouco que resta do mercado no Brasil, intimidando dessa forma os empresários bem intencionados, bem como afugentando os investimentos externos, além de se mostrar completamente inábil para melhorar os problemas de infraestrutura do país (em qual gaveta estará o PAC logístico?!) que tanto encarecem os bens de produção e atravancam o desenvolvimento industrial, Dilma agora resolveu atribuir acentuadíssima carga de mérito próprio pela redução nas tarifas de energia. Em discurso transmitido por rede nacional no dia de ontem (23/01) a presidente foi tomada novamente por arroubos de lulismo e disparou a metralhadora contra aqueles que chamou de "os do contra" e "os pessimistas", esquecendo-se de que muitos dos que se mostraram reticentes em relação a medidas e pretensões do governo fazem parte dele próprio, como o secretário-executivo de Minas e Energia, (anteriormente ministro) Márcio Zimmermann. Certamente Dilma aprecia mais o fanfarronismo otimista de Guido Mantega...
O grande problema se dá em função da negligência com que a presidente abordou a questão energética, exemplo gravíssimo de cinismo só não notado e denunciado por quem tem rabo preso com o governo ou por quem é ignorante o suficiente para se deixar levar pelas lorotas do petismo. É bem sabido por quem busca um mínimo de informação que entre os anos de 2003 e 2009 houve erros absurdos envolvendo a cobrança do serviço de fornecimento de energia no Brasil: segundo os números do TCU o montante total que recaiu a mais sobre o bolso dos consumidores pode ter alcançado cerca de R$ 12 bilhões! Sem nunca ter se prestado a esclarecimentos a respeito do assunto, o governo lançou o discurso da redução das tarifas como se ninguém jamais tivesse ouvido falar no rombo causado à população, tampouco do aumento das mesmas tarifas no final de 2012, acima da inflação. Haja cinismo! Não bastando agir de má fé, Dilma afirmou que o barateamento das contas irá ajudar significativamente os setores econômicos e o consumidor residencial. Será?!
O mínimo que o governo deveria fazer seria expor os cálculos para que a sociedade pudesse avaliar se realmente vai ganhar, em que prazo, se só haverá uma compensação ao invés de redução ou se no final prevalecerão as perdas, porém, é esperar demais de um governo populista e autoritário. E após vários episódios recentes de apagão, como os que ocorreram entre 1999 e 2001 e tanta munição forneceram ao PT, Dilma ainda teve a cara de pau ao dizer que com a volta das chuvas o abastecimento não deverá mais sofrer cortes, ou seja, pela enésima vez nota-se as autoridades brasileiras colocando a culpa na impessoalidade da natureza, sem responsabilizar a falta de investimentos em infraestrutura e tecnologia ou as indicações fisiológicas para cargos técnicos e gerenciais. A presidente também mencionou que as termelétricas terão maior folga com a retomada do potencial hidrelétrico, como se tivesse certeza absoluta da continuidade das chuvas (o outono começa daqui a 2 meses...) e nem sequer teve a humildade de promover uma autocrítica pela total falta de pesquisas e investimentos na ampliação das parcas redes eólica e solar do país. Outros pontos que passaram longe do discurso de Dilma e reveladores de sua falta de atenção ao contexto foram a inflação acima da meta, o crescimento econômico risível de 2012 e o aumento da gasolina, que poderá atingir 5% e faz notar ainda mais gritantemente as falácias nacionalistas e estatólatras que cercam a combalida Petrobrás.
É uma obviedade tremenda perceber que todas essas mazelas e lambanças do governo petista não podem encontrar álibi na suposta redução das tarifas energéticas, apenas um detalhe em meio à grande quantidade de problemas, e que nem mesmo é capaz de compensá-los. O que Dilma aponta como ser "do contra", eu chamo de oposicionismo, algo valorizado nas democracias e necessário diante de um governo inepto e de apadrinhamentos como o do PT, logicamente ojerizado pelo autoritarismo do partido desde que chegou ao poder, mesmo tendo bradado sempre a seu favor e o praticado frequentemente quando fora dele. Já o que a presidente considera "pessimismo", eu reputo de crítica realista, elemento que se torna raríssimo em regimes populistas, por isso mesmo igualmente necessário no combate à catarse e à ingenuidade. Dilma e seu cinismo são a cara do Brasil, por isso, sem titubear, prefiro me manter na oposição e na crítica.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Escolha óbvia, equívoco na certa


Todo sábado chega em minha caixa de e-mail uma mensagem do Sinpro-SP, o Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo e, exceto quando o assunto tem a ver com alguma questão burocrática trabalhista, o conteúdo é inútil. Na mensagem do último sábado constava um link com os livros preferidos de meia dúzia de professores de diferentes disciplinas escolares e, como livros naturalmente sempre me despertam interesse, resolvi conferir, não sem esperar encontrar o óbvio... Não demorou mais do que um segundo e logo pude ver o Manifesto Comunista dentre as demais obras escolhidas; cliquei no título da obra e se iniciou um áudio com o professor - de História, é claro - que havia selecionado o Manifesto... justificando sua escolha e enaltecendo o mesmo.
De acordo com o professor, o Manifesto... é uma obra lapidar não apenas a respeito do marxismo, mas de todo um contexto histórico referente à modernidade industrial e das "contradições inerentes a ela". Ele exalta a pujança do texto, seu poder de aglutinação, a linguagem vibrante, a riqueza de conceitos e a influência posterior do Manifesto..., verificável em sua ótica, até os dias de hoje. Para terminar, oferece uma platitude inconsistente: "não é preciso ser comunista para gostar do Manifesto...". Ah, não?! Por que será que Marx não lhe atribuiu o nome de "Manifesto Ecletista" ou "Manifesto Pluralista"?!
Em primeiro lugar, apesar do óbvio que eu tinha certeza de encontrar antes mesmo de verificar o link, não consigo deixar de me surpreender com a escolha do Manifesto Comunista em meio a séculos de literatura que tantas maravilhas produziu: Ilíada, Odisseia, Eneida, A Divina Comédia, Os Lusíadas, Dom Quixote, O Leviatã, as obras de Voltaire, de Stendhal, de Flaubert, de Proust, de Dostoievski, de Tolstoi, de Kafka, dos escritores brasileiros dos séculos XIX e XX, de George Orwell, o Ulisses de James Joyce, ou até mesmo a Utopia de Thomas Morus, obra simples de um escritor que influenciou Marx, sendo porém, muito mais original e criativa do que o Manifesto.... E por falar em originalidade, decerto nosso professor teria tido um grande insight caso citasse o Popol Vuh dos maias, uma escolha de esquerda, mas que facilmente lhe pouparia de equívocos tão notórios. Diante de uma vastidão de escritos que captam a essência humana, além da própria qualidade da literatura, é realmente deplorável observar um professor elegendo algo que nem pode ser considerado um livro, mas tão somente um panfleto, como sua obra preferida. Vá lá apreciá-lo, mas colocar o Manifesto... acima de tudo sempre será um grande desperdício.
O Manifesto Comunista foi escrito em 1848, ainda no início da vida intelectual de Marx. Nessa época, a visão do próprio autor com relação ao comunismo ainda era totalmente pautada pelo que se pode designar como uma mistura de radicalismo à la Graco Babeuf com o romantismo tipicamente marxiano, cujo maior exemplo de herói mítico sempre foi o de Prometeu, o transgressor que sozinho ousou contestar a ordem do mundo para salvar a humanidade. A ideia de um idílio proletário baseado na virtude, na criatividade e no "homem completo", trabalhador braçal, pescador e ao mesmo tempo intelectual, esteve muito presente no jovem Marx e embora possa ser considerado um ideal final marxiano, (com altíssimo grau de utopia) ficou completamente ausente dos escritos da maturidade de Marx, momento no qual a racionalidade e o pragmatismo expulsaram o romantismo da juventude. Tão logo Marx - juntamente com Engels - passou a ser tomado pelo espírito cientificista da segunda metade do século XIX, reconheceu ele mesmo o caráter utópico das visões prometeicas e admitiu que o trabalho necessitava de uma autoridade reguladora.
Essa visão pragmática e racionalista do marxismo, além de ter dado a tônica de O Capital, obra da maturidade marxiana e na qual o autor mais se dedicou em sua vida, prevaleceu também no desenvolvimento ulterior do marxismo, ao menos em seus maiores centros. Orientou as políticas da Segunda Internacional de Karl Kautsky, do Lenin da NEP, que renunciou à "democracia proletária" de cunho romântico, característica do começo da Revolução Russa, e também do stalinismo, ainda que Stalin misturasse pragmatismo e racionalidade com outros ingredientes, tais quais o militarismo e o nacionalismo. O marxismo romântico teve mais influência nas chamadas periferias, como a Ásia e a América do Sul, fato que pode explicar a adoração de um professor brasileiro e das esquerdas periféricas em geral por uma obra como o Manifesto..., mas isso torna incoerente considerar o libelo da juventude marxista como "lapidar", "rico em conceitos" e "influência decisiva" na posteridade do pensamento marxista. Não pode haver a menor dúvida por parte daqueles que conhecem a obra de Marx, que o Manifesto... não tem nada de lapidar, tampouco possua riqueza conceitual ou tenha influenciado, sem ressalvas, o futuro do marxismo. Trata-se de um escrito recheado de generalizações e de hipérboles, quase sem nenhum conteúdo filosófico, desprovido de considerações econômicas; aborda principalmente a luta de classes, no entanto não traz conceitos marxianos como "burguesia", "proletariado", "capitalismo", "alienação", "ditadura do proletariado", "socialismo", "comunismo", "dialética" ou "materialismo" e foi redigido essencialmente com o objetivo de arregimentar seguidores para o marxismo. Até mesmo neste ponto não houve sucesso irrestrito, pois o anarquismo de Bakunin, que via em Marx um autoritário centralizador, e o nacionalismo muitas vezes disputaram espaço contra o marxismo; no caso deste último, creio que até hoje seu apelo é maior do que o internacionalismo proletário.
Raymond Aron, liberal e um dos maiores estudiosos do pensamento de Marx de todos os tempos, perguntaria "que marxismo?", mas jamais apontaria o Manifesto... de modo indistinto como obra lapidar de Marx. Nosso professor entende que o Manifesto... influenciou inclusive as principais correntes artísticas no século XX, o que é claramente uma generalização, tão amplo é o conceito de "arte". Quem se dispuser a decifrar uma letra do Rush verá a crítica que o trio promove às ideias de cunho autoritário, tais quais o marxismo. Não é preciso ir tão longe, basta se concentrar na Europa ou na Rússia, palco da primeira experiência marxista da história: as peças de Bertold Brecht ou os filmes de Sergei Einsestein não foram inspirados no jovem Marx, talvez o cinema de Vsevolod Pudovkin sim, porém, sua própria vitalidade enquanto tributária do marxismo é para lá de confidencial.
Outro fator que pode explicar a paixão do professor brasileiro pelo Manifesto... é sua fácil digestibilidade. Qualquer estudante de História que vai até a universidade já previamente doutrinado pelo marxismo, não em busca de entendimentos rigorosos a respeito da complexidade do espírito humano e do contínuo vaivém da dinâmica histórica, que compreende os mais diversos aspectos, mas tão somente imbuído da avidez por aplicar o molde marxista aos seus preconceitos, já tem no Manifesto... sua obra de cabeceira. É um escrito simples, direto e rasteiro, - será por isso visto como lapidar?! - de fácil digestão, bem ao contrário de O Capital, pouquíssimo lido, árido, complexo, enfastiante. Nenhum doutrinador do marxismo o faz utilizando O Capital como instrumento de doutrinação, nem alunos dispostos a "aprofundar os conhecimentos de marxologia" o querem empreendê-lo sob a monotonia do Marx pragmático e racionalista. Os hormônios da verve revolucionária exigem a emoção raivosa e hiperbólica do Manifesto... Nosso professor afirma em sua resenha que leu o Manifesto... quando tinha 15 anos e hoje calculo que deva ter entre 35 e 40, ou mais, prova de que a paixão ideológica permanece naqueles que desde cedo apreciam conteúdos autoritários.
O pensamento do próprio Marx e o marxismo, isto é, tudo aquilo que deriva do filósofo alemão, caracterizam-se de modo essencial e inalterado por algo que os fazem execráveis aos olhos de todo liberal: o autoritarismo. Isto posto, a leitura de autores do porte de Raymond Aron, Leszek Kolakowski ou David Priestland nos mostra que o marxismo possui várias vertentes, muitas delas notadamente marcadas por elementos divergentes entre si. Desta maneira, elencar o Manifesto Comunista, um simples panfleto da fase jovial e romântica de Marx, depositando nele toda substância de uma visão de mundo que não ficou totalmente acabada por seu próprio autor e que se desenvolveu tendo que lidar com diferenças intrínsecas, além do desconhecimento sobre Marx, é revelador da ideologização e do doutrinarismo característico de tantos educadores brasileiros. Só se deve lamentar.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A coleção de besteiras de um ufanista anônimo


Quase ninguém contesta a noção de que todos os lugares do mundo possuem aspectos positivos e negativos. É possível encontrar belezas naturais deslumbrantes em países miseráveis do continente africano, cidades-modelo no Brasil, tais quais Curitiba, bem como por outro lado, a Itália, de IDH beirando os 0,900, riquíssima em história e arte, é também pródiga em desorganização e corrupção. Outro exemplo é os EUA, potência econômica global, maior PIB do planeta, altíssimo IDH, mas também marcado por episódios de violência brutal, racismo e guetos de pobreza. 
Há problemas em qualquer lugar e mesmo "paraísos" como a Noruega podem fazer surgir um Anders Breivik, porém, se não é possível nem devido desprezar esta constatação, acreditar que todos os países do mundo se igualam por apresentarem defeitos e qualidades, é um equívoco grosseiro e os dados objetivos oferecidos pelo IDH não deixam dúvida alguma sobre isso. Existem nações com mais qualidades do que defeitos e vice-versa e, de minha parte, estou seguro de que o Brasil está dentro daquelas que, infelizmente, têm mais defeitos do que qualidades. Pensar diferente não significa ser mais "patriota", pelo contrário, muitas vezes indica menos apreço pelo local de nascimento e, nesse sentido, um paralelo com as reflexões de Plutarco a respeito da amizade pode ser útil: o verdadeiro amigo é aquele que aponta os erros e não se exime de expor as verdades. Se tudo já está nos conformes, para que melhorar, para que mirar os exemplos daqueles que realmente possuem indicadores louváveis?
Navegando na Internet me deparei com apontamentos sobre o tema os quais pretendem mostrar que o Brasil está em pé de igualdade com outras nações reconhecidamente desenvolvidas. Trata-se de um texto que circula na web há pelo menos uns quatro anos, sem que possua um autor identificado, sendo a única referência, a mais vaga possível, de "uma escritora holandesa". Sabe-se que é uma farsa, merecidamente ridicularizada, o problema é que muita gente ainda cai nela. Evidentemente, não passa de lixo cibernético, provavelmente vindo da pena de um tolo patrioteiro. Dentre os aforismos trazidos pela autora anônima, muitos deles não acompanham nenhuma fonte, outros consistem de informações que por si só não permitem conclusões acerca da qualidade de vida da população, outros ainda, não resistem a um exame minimamente atento da realidade.
O texto já foi refutado exaustivamente a partir das mais diversas linhas de argumentação e eu não precisaria me encarregar de fazê-lo, porém não pude resistir, e já aproveito para pedir desculpas pelas ironias, necessárias quando se está diante de tamanha coleção de besteiras. Ao leitor interessado ou aos mais crédulos, alguns links úteis para desfazer o besteirol podem ser encontrados aqui mesmo no blog, casos da ONG Contas Abertas ou da Heritage Foundation. A quem quiser se aprofundar um pouco mais, basta uma simples pesquisa no site da ONU e de seus organismos afiliados. Um Atlas atualizado também ajuda.
Antes de continuar, adianto-me e permito ensaiar uma conclusão: em termos gerais, ao contrário do que supõe nossa autora fantasma, brasileiro não costuma falar mal do Brasil, ao invés disso, o que predomina é um tolo ufanismo e uma carência assustadora de pensamento crítico. Na ideia da maioria dos brasileiros crítica é sinônimo de chatice, infelicidade, enquanto que ser cuca fresca denota o sujeito feliz. Acredita-se em muita bobagem e os desmandos mais absurdos e arbitrários são aceitos passivamente e/ou esquecidos (em que país sério um condenado pela justiça assumiria cargo de deputado?!). Brasileiro é useiro e vezeiro em acreditar que MPB é a melhor música de todas, que o futebol brasileiro, decadente já faz uma década, ainda é o melhor do mundo, ou que as mulheres brasileiras são as mais belas, apreciação feita quase sempre com base no sexismo machista. Por outro lado, não é uma nação em que se valoriza o conhecimento e o capital humano.
Querer que o Brasil melhore de verdade é um desejo comum a todas as pessoas que ainda conservam a sanidade mental em boas condições. Os caminhos para isso existem e são conhecidos, apenas não é do interesse dos mandatários e dos oligarcas que se beneficiam do butim colocá-los em prática. Achar que tudo corre na mais perfeita ordem e que o país é tão bom quanto nações cujo desenvolvimento e qualidade de vida são reconhecidos por dados objetivos, é cair nas patriotadas rasteiras à la Galvão Bueno, ou se prestar à ingenuidade de acreditar nos discursos de Lula e cia. Que haja motivos para que se fale bem do Brasil, do contrário, o mais certo é mandar o falso patriotismo às favas!
Segue em itálico o texto apócrifo. Logo abaixo de cada item, os meus comentários...

- Os brasileiros acham que o mundo todo presta, menos o Brasil, realmente parece que é um vício falar mal do Brasil. Todo lugar tem seus pontos positivos e negativos, mas no exterior eles maximizam os positivos, enquanto no Brasil se maximizam os negativos. Aqui na Holanda, os resultados das eleições demoram horrores porque não há nada automatizado. Só existe uma companhia telefônica e pasmem: Se você ligar reclamando do serviço, corre o risco de ter seu telefone temporariamente desconectado.

Cabe lembrar que as urnas informatizadas do TSE não fazem o sistema político brasileiro mais livre de corrupção, nem melhoram as campanhas políticas, paupérrimas em debate, tampouco contribuem para consolidar a democracia no Brasil, atualmente sob a ditadura do PT; quanto à questão da telefonia, caso se queira avaliar corretamente a qualidade dos serviços prestados na Holanda, deve-se fazer uma pesquisa de satisfação junto à população de lá; no Brasil, até não muito tempo atrás, os serviços telefônicos controlados pelo estado eram péssimos, estando bem melhores após a privatização do setor, embora as pressões da oposição comandada pelo PT à época tenham comprometido o processo até certo ponto, sem falar que boa parte dos brasileiros desmemoriados são estatólatras; como se tudo isso não bastasse, a informação de que só existe uma única companhia de telefone na Holanda é totalmente falsa.
 
- Nos Estados Unidos e na Europa, ninguém tem o hábito de enrolar o sanduíche em um guardanapo - ou de lavar as mãos antes de comer. Nas padarias, feiras e açougues europeus, os atendentes recebem o dinheiro e com mesma mão suja entregam o pão ou a carne.

Constatação imprecisa, infundada e sem nenhum rigor, generalização arbitrária e típica daquilo mesmo que o texto quer criticar! Há nos EUA e na Europa lugares onde o asseio é totalmente preservado, do mesmo modo que no Brasil é possível encontrar biroscas chechelentas quase à cada esquina. Ademais, basta checar onde há maior índice de contaminação alimentar e o Brasil, até por falta de fiscalização, tem índices piores do que qualquer país desenvolvido.

- Em Londres, existe um lugar famosíssimo que vende batatas fritas enroladas em folhas de jornal - e tem fila na porta.

Qual é esse lugar? Pesquisando-se, não é possível encontrar nenhuma referência a respeito.  Se é que o tal lugar existe, as pessoas que vão até lá comer batata no "jornal" o fazem por livre e espontânea vontade. Já aqui no Brasil, são famosos os casos de oferecimento de merenda estragada a alunos de escolas públicas...

- Na Europa, não-fumante é minoria. Se pedir mesa de não-fumante, o garçom ri na sua cara, porque não existe. Fumam até em elevador.
 
Apreciação equivocada. O antitabagismo é fortíssimo em vários países europeus, que o diga a Fórmula 1, que foi obrigada a buscar novos patrocínios depois que a cruzada contra o cigarro ganhou corpo nos anos 1990. Além do mais, como tantas outras, a lei antifumo é inúmeras vezes desrespeitada no Brasil.
 
- Em Paris, os garçons são conhecidos por seu mau humor e grosseria e qualquer garçom de botequim no Brasil podia ir pra lá dar aulas de ‘Como conquistar o Cliente’.
 
Mais uma generalização vazia que, além de tudo, não guarda qualquer relação com nível de desenvolvimento. Se de fato há atendentes franceses antipáticos e mal educados, o mesmo pode ser visto em qualquer nação do mundo, como já me deparei com tantos aqui no Brasil.
 
- Você sabe como as grandes potências fazem para destruir um povo? Impõem suas crenças e cultura. Se você parar para observar, em todo filme dos EUA a bandeira nacional aparece, e geralmente na hora em que estamos emotivos...
 
O que é isso?! Parece um trecho copiado e colado sem manter coesão com o resto do texto. A autora é patrioteira, mas critica as patriotadas dos outros. Imposição de crenças e culturas? Hummm..., senti um fedor de pós-modernismo! E o que pensar sobre o filme do Lula, então?! Ok, vamos espalhar a cultura brasileira mundo afora... bunda, Carnaval, futebol e cerveja..., desculpem-me, mas é exatamente isso que o brasileiro em geral gosta de vender. E o nosso "imperialismo cultural" pega como nenhum outro!
 
- Vocês têm uma língua que, apesar de não se parecer quase nada com a língua portuguesa, é chamada de língua portuguesa, enquanto que as empresas de software a chamam de português brasileiro, porque não conseguem se comunicar com os seus usuários brasileiros através da língua Portuguesa. Os brasileiros são vitimas de vários crimes contra a pátria, crenças, cultura, língua, etc… Os brasileiros mais esclarecidos sabem que temos muitas razões para resgatar suas raízes culturais.

Talvez esta tenha sido a pior, faria inveja a qualquer milico dos anos 1970! Certo, vamos resgatar o Tupi-Guarani..., assim como os suiços só deveriam usar o Romanche, os australianos os dialetos aborígenes, os neozelandeses o Maori e até os EUA deveriam abolir o Inglês, medida que conduziria estas pobres nações ao desenvolvimento... Mais estranho é pensar em "cultura brasileira" em um país de tantas diversidades regionais, por sinal, muitíssimo bem preservadas. Ademais, quem muitas vezes maltrata a própria língua é o brasileiro, haja vista o ex-presidente, alguém que deveria dar exemplo, mas que lamentavelmente se orgulha do intelecto prejudicado. E chega de confundir regionalismo com o uso errado das normas gramaticais! Culturalismo por si só é deplorável, quando usado com requintes de burrice, vira nacionalismo canalha, como diria o bom e velho Samuel Johnson.

E o besteirol continua...

- Os dados são da Antropos Consulting: 

Aqui seria interessante que nossa autora anônima apresentasse os créditos de tal instituição - só o que se sabe é tratar-se de um grupo gerenciado por um antropólogo desconhecido, mais afeito à auto-ajuda do que à análise científica.
 
1. O Brasil é o país que tem tido maior sucesso no combate à AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis, e vem sendo exemplo mundial.

Sim, é uma verdade, mas que precisa ser relativizada. Hoje em dia até a Uganda tem tido sucesso no combate à AIDS, ao passo que outras nações africanas como Burkina-Fasso, Quênia e Zimbábue têm baixado o número de casos e melhorado o tratamento aos infectados. Observa-se que os bons resultados no combate à doença em muitas nações é fruto mais de mudanças de hábito e comportamento dentre as próprias populações do que de um suposto milagre especificamente brasileiro. De resto, o Brasil ainda sofre com doenças erradicadas em países desenvolvidos, vide a tuberculose, e apresenta índice longe de poder ser apontado como bom no caso da mortalidade infantil. A expectativa de vida também não é das melhores.
 
2. O Brasil é o único país do hemisfério sul que está participando do Projeto Genoma.

Errado, a Austrália foi pioneira! E há ainda participação de países como África do Sul e Angola. De resto, o Hemisfério Norte conta com mais de 90% dos países desenvolvidos e não estamos em uma guerra Norte contra Sul.
 
3. Numa pesquisa envolvendo 50 cidades de diversos países, a cidade do Rio de Janeiro foi considerada a mais solidária.

Logicamente, é uma pesquisa de percepção, não da realidade. Esta, por sua vez, remete ao tráfico, à violência, a Eduardo Paes ou a Sérgio Cabral... No senso comum o Rio de Janeiro é associado à irreverência, sol, calor, praia e por aí vai, o mesmo que pode ser encontrado na Califórnia ou na costa australiana e que, isoladamente, não quer dizer quase nada em termos positivos. Indagar aos familiares do menino João Hélio o que pensam a respeito do tema seria um bom exercício...
 
4. Nas eleições de 2000, o sistema do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) estava informatizado em todas as regiões do Brasil, com resultados em menos de 24 horas depois do início das apurações. O modelo chamou a atenção de uma das maiores potências mundiais: os Estados Unidos, onde a apuração dos votos teve que ser refeita várias vezes, atrasando o resultado e colocando em xeque a credibilidade do processo.

Já escrevi a respeito parágrafos acima e repito: tal fato não melhora em nada a política brasileira. É mais ou menos a mesma coisa que um produtor de melancias se orgulhar por ter colhido em sua plantação a maior melancia de todas. E daí?! E que credibilidade têm os nossos políticos eleitos por urnas informatizadas?!
 
5. Mesmo sendo um país em desenvolvimento, os internautas brasileiros representam uma fatia de 40% do mercado na América Latina.

Comparar em termos de América Latina é pífio. Em âmbito mundial o Brasil não se destaca, além do que, deve se considerar a desigualdade regional do país, que prejudica gritantemente as áreas distantes dos grandes centros. Cabe ainda salientar o preço alto e a qualidade apenas sofrível da Internet brasileira.
 
6. No Brasil, há 14 fábricas de veículos instaladas e outras 4 se instalando, enquanto alguns países vizinhos não possuem nenhuma.

Que países vizinhos? Suriname? Venezuela? Que fábricas, da Gurgel..., ou da Fiat, Ford, GM, Volkswagen, Citroen, Peugeot, Renault, Hyundai, etc. (?), todas consideradas pelas esquerdas como símbolos do "imperialismo estrangeiro", mesmo pensamento que parece ter a autora anônima. E o preço de um carro no Brasil(?), cerca de três vezes mais caro do que um idêntico no mercado norte-americano, valor absurdo fruto dos impostos.
 
7. Das crianças e adolescentes entre 7 a 14 anos, 97,3% estão estudando.

Sim, foi FHC quem universalizou o Ensino Básico no Brasil, entretanto, em relação à qualidade, as escolas brasileiras perdem feio para vizinhos como Argentina, Chile e Uruguai. Os índices de analfabetismo, analfabetismo funcional e desempenho em termos de raciocínio lógico-matemático dos estudantes brasileiros são horrendos. Fora isso, a valorização do professor é praticamente nula.
 
8. O mercado de telefones celulares do Brasil é o segundo do mundo, com 650 mil novas habilitações a cada mês.

Ah, sim, telefonia celular que outro dia desses sofreu restrições por parte do governo. Há uma enxurrada de aparelhos, porém faltam antenas de telefonia, que para serem instaladas precisam passar por um morosíssimo processo burocrático de concessão governamental.
 
9. Telefonia fixa, o país ocupa a quinta posição em número de linhas instaladas...

Dado que leva em conta números absolutos de uma população de quase 200 milhões de habitantes e sujeita à enorme desigualdade. O serviço não é dos melhores e os impostos o encarecem sobremaneira...
 
10. Das empresas brasileiras, 6.890 possuem certificado de qualidade ISO-9000, maior número entre os países em desenvolvimento. No México, são apenas 300 empresas e 265 na Argentina.

Igualmente uma informação baseada em números absolutos, sendo que a média brasileira por cidadão é baixa. Mesmo considerando em termos absolutos, o Brasil ainda fica atrás de países como o Uruguai.
 
11. O Brasil é o segundo maior mercado de jatos e helicópteros executivos.

Para quem? Para políticos e magnatas. Bem melhor e revelador de desenvolvimento real seria se o transporte público brasileiro tivesse qualidade minimamente decente. Sem falar no sucateamento de portos e aeroportos (pessimamente) administrados pelo governo. Na Holanda da nossa autora sem nome há uma ampla rede cicloviária e ônibus movidos a hidrogênio (poluição zero).

Ainda não acabou...

Por que vocês têm esse vício de só falar mal do Brasil?

1. Por que não se orgulham em dizer que o mercado editorial de livros é maior do que o da Itália, com mais de 50 mil títulos novos a cada ano?

Piada! Brasileiro lê pouco e muitas vezes não sabe o que está lendo (dentre os estudantes de nível superior, quase 40% são analfabetos funcionais!). E, de modo geral, o preço do livro no Brasil é caro. Isso sem mencionar que muitas obras de qualidade ainda esperam por tradução nacional (por motivos ideológicos é bem possível que jamais sejam traduzidas).
 
2. Que têm o mais moderno sistema bancário do planeta?

Piadaça! Bancos que prestam maus serviços, com inúmeras falhas de segurança e altas taxas. Dos bancos brasileiros, somente o Itaú é reconhecido. Fora isso, os bancos estatais são instrumentos de desestabilização monetária, de gastança de verbas públicas, de aparelhamento sindical e de corrupção.
 
3. Que suas AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE ganham os melhores e maiores prêmios mundiais?  

4. Por que não falam que são o país mais empreendedor do mundo e que mais de 70% dos brasileiros, pobres e ricos, dedicam considerável parte de seu tempo em trabalhos voluntários?

Quem realizou esse levantamento? Trabalho voluntário não revela nada além de altruísmo, algo até louvável, mas que certamente não é fator responsável por desenvolver uma nação. Quanto ao empreendedorismo é mais uma piadaça! O Brasil é um dos países mais burocráticos do mundo e com carga tributária mais devastadora, não à toa grande quantidade de empresas, sobretudo as micro e pequenas, não conseguem sobreviver.
 
5. Por que não dizem que são hoje a terceira maior democracia do mundo?

O que leva a autora fantasma a pensar dessa forma? Só se for a quantidade de eleitores, o que não significa absolutamente nada em termos de qualidade democrática. O que temos é um quadro de representatividade quase exaurido, recheado de políticos ignorantes e corruptos que legislam segundo interesses particulares, aumentam o próprio salário, mandam e desmandam arbitrariamente, riem da cara do povo e ainda por cima são reeleitos pela população que sofre de esquecimento e analfabetismo político. Democracia de verdade tem a ver com cultura democrática a ser exercida no cotidiano, não com apertar botão em urna.
 
6. Que apesar de todas as mazelas, o Congresso está punindo seus próprios membros, o que raramente ocorre em outros países ditos civilizados?

Raramente ocorre em outros países? Como assim, cara-pálida?! Depois de tanta corrupção o julgamento do Mensalão resultou em condenações de políticos pela primeira vez na história brasileira e ainda se é obrigado a ler isso?! Condenações impostas pelo STF, não pelo Congresso, que inclusive tenta a todo custo passar a mão na cabeça dos corruptos, não é mesmo sr. Marco Maia? Além disso, enorme porção da população brasileira, cada vez mais cooptada pelo gramscianismo PeTralha, aprova o jeitinho e tolera a corrupção.
 
7. Por que não se lembram que o povo brasileiro é um povo hospitaleiro, que se esforça para falar a língua dos turistas, gesticula e não mede esforços para atendê-los bem? Por que não se orgulham de ser um povo que faz piada da própria desgraça e que enfrenta os desgostos sambando.

Creio não ser preciso perder tempo em comentar tamanha aberração. Apesar da idiotice disseminada que assola o Brasil, não consigo deixar de me estarrecer ao notar que tanta gente ainda se disponha a acreditar nisso. Rir da própria desgraça, ao invés de imbecilidade e alienação, é considerado meritório por nossa autora anônima!
 
É! O Brasil é um país abençoado de fato. Bendito este povo, que possui a magia de unir todas as raças, de todos os credos. Bendito este povo, que sabe entender todos os sotaques. Bendito este povo, que oferece todos os tipos de climas para contentar toda gente. Bendita seja, querida pátria chamada BRASIL!

Este encerramento me faz lembrar daquele dito estúpido: "o Brasil é abençoado porque aqui não ocorrem terremotos, vulcões, furacões, tsunamis...". Ou então: "apesar de tudo, o Brasil é o melhor lugar do mundo para se viver". São colocações sem nenhuma relação com o desenvolvimento de um país, tolices ufanistas e sentimentalóides que desmoronam tão logo cotejadas com dados objetivos obtidos por órgãos e instituições de reconhecimento mundial. Besteirol tem limite, paciência também!