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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Anarco-relativismo e revolução: o perigoso descarte dos padrões e a crise da autoridade

"A grande crise na educação estaria ligada ao fato de que toda e qualquer responsabilidade pelo mundo está sendo rejeitada, seja a responsabilidade de dar ordens, seja a de obedecê-las. Os adultos se recusam a assumir responsabilidade pelo mundo ao qual trouxeram as crianças." - Hannah Arendt

Em meio à onda de manifestações que varre os quatro cantos do Brasil, o senso comum faz com que muitos cometam equívocos que evidenciam a profunda crise de valores que ora vivemos. Dentre tantas causas justíssimas que, de fato, exigem uma tomada de postura da população, há aqueles que se perdem na exaltação da estética dos protestos e do frescor da juventude. Penso ser necessário menos louvor e empolgação e mais cuidado.
Em um primeiro momento, quando os idiotas úteis do MPL (um mero núcleo minoritário de transmissão de ideias autoritárias de esquerda advindas do petismo e de partidos nanicos dotados do mesmo viés) deram início às manifestações, sem que ainda o cidadão comum participasse das mesmas, Arnaldo Jabour foi um dos únicos que criticou de modo exemplarmente correto as atitudes do grupelho, baseadas sim em vandalismo e violência, empreendidas com intuito anticapitalista e visando a atingir sobretudo o governo do estado de São Paulo. Jabour foi esculhambado. Depois disso, o rumo dos acontecimentos fugiu ao que normalmente poderia se esperar do contexto e o MPL foi engolfado por reivindicações muito mais amplas e justas. Os alvos passaram a ser o governo federal e a classe política cooptada, dado os inúmeros males que estes erigiram como método de governo há dez anos. Melhor assim, mas é preciso refletir a respeito de certos aspectos.
A atual juventude foi (des)educada sob a égide do marxismo, do pós-modernismo e da filosofia de Rousseau, mistura de insanidade que resultou na nefasta noção de que tudo é possível e legitimado segundo uma visão rigorosamente deturpada do conceito de liberdade e na recusa de qualquer autoridade estabelecida a partir dos usos, costumes e leis da sociedade. Considerado tal panorama, não surpreende verificar que a polícia venha sendo duramente atingida por críticas de vários segmentos, pois ela representa um tipo de autoridade facilmente identificável perante o senso comum. Juntamente com as forças armadas, a polícia detém o monopólio da violência no mundo moderno, elemento cotidiano - no caso da polícia - garantidor de segurança e da contenção de indivíduos ou grupos que transgridem a normatividade. A ideia de norma, sem a qual não há possibilidade de coordenação e ajuste das diferenças e interesses que tecem a experiência social, é cada vez mais colocada em dúvida por pretensos especialistas que insistem em lhe atribuir conotação fragmentária, classista ou racial. A isonomia legal é uma característica insigne do liberalismo e, sempre que for infringida, os responsáveis são passíveis de punição. Se nos dias de hoje ocorrem situações em que a força policial atua sem respeitar a isonomia legal, isso não deveria jamais servir como justificativa para que se conteste o monopólio da violência que a polícia detém, do contrário, abrem-se precedentes perigosos, como notoriamente se sucedeu quando da ascensão do nazismo durante a República de Weimar. No cadinho do marxismo revolucionário, da anarquia pós-moderna e da noção rousseauniana de liberdade como elemento gratuito da natureza, a grande maioria dos jovens chutou para longe a necessidade da observância de valores e interditos morais, bem como os mais velhos se furtam à responsabilidade na transmissão de tais valores e interditos, - que talvez eles mesmos tenham deixado se perder - daí a crise na educação à qual remete a reflexão que abre este artigo. É cada vez mais raro encontrar quem interprete a liberdade como um dever interior, como uma questão de construção moral.
No último domingo (23/06), o jornal O Estado de São Paulo trouxe à baila um texto do sociólogo Pedro Rocha de Oliveira, intitulado "Mau Senso", no qual é possível comprovar a atual crise de valores. Obscurecido e limitado no interior das fronteiras esquerdistas, o autor consegue a proeza de inverter cabalmente a realidade. Ao discutir a respeito de uma ação policial na favela do Jacarezinho (RJ), ele criticou a polícia e aproveitou para defender a ideia manjada, superficial, preconceituosa e promotora de ódio segundo a qual a "burguesia" rejeita a violência policial contra ela própria, mas não está nem aí para a "truculência" corriqueira observada nas periferias. Como se vê, Oliveira, pinta com cores classistas o que deveria ser pensado a partir de uma perspectiva universalizante. Primeiramente, vale ressaltar que ninguém que preze a isonomia legal e esteja imbuído de ética irá justificar episódios de violência descabida, aqui ou acolá, tratando com parcialidade as diferenças econômicas. Em segundo lugar, e o que é pior, o autor responsabiliza os ricos e a classe média por algo que definitivamente não corresponde à realidade, perdendo a chance de proferir a crítica correta. O grande mérito de José Padilha, diretor de Tropa de Elite, foi apontar o erro ideológico concreto dos estratos mais abastados da sociedade, deixando de lado o ranço esquerdista, abstrato e economicista. Enquanto o crime comanda as periferias e afeta a sociedade indistintamente no que se refere a questões econômicas, estabelecendo também o poder paralelo e privando o cidadão de bem de seus direitos, jovens intelectualoides financeiramente privilegiados, muitas vezes consumidores de drogas e doutrinados pela esquerda desde a escola até a universidade, sustentam e defendem a bandidagem. É essa juventude que relativiza a ética, a moral, as leis, as autoridades e tudo mais que sinaliza que nem tudo deve ser permitido, sob pena de imperar a lei do mais forte. Sempre que o crime mata, chacina e faz o sangue jorrar, armado até os dentes com equipamento superior ao da polícia, vitimando diariamente gente de bem no interior das próprias favelas, os apólogos do relativismo silenciam; quando a polícia enfrenta os bandidos, está errada aos olhos deles.
Ainda que o Brasil viva um quadro de intensa falta de representatividade e de instituições sucateadas, não é com base no descarte completo de padrões construídos ao longo de séculos de história que algo novo e melhor surgirá a partir do nada. É preciso saber contra o que exatamente se colocar, e não ser um arauto do niilismo e da destruição; é preciso separar o joio do trigo, identificar o que é justo e o que não é, o que é pelo bem de todos e o que é do interesse de oportunistas, ideólogos, fomentadores do ódio, da revolução e do caos social, diferenciações que só podem ser almejadas se houver padrões e referências, como deixam claras as lições dos grandes líderes que a história legou. Ao contrário do que pensa Oliveira, a juventude não está preocupada com preservação de ordem nenhuma, apreciação que se evidencia na relação dos jovens com os pais, com as pessoas mais velhas em geral, com os professores e profissionais da educação, além da relação com as autoridades instituídas, por isso mesmo os jovens enxergam a polícia com ares extremamente negativos. Se nem todos atentam para a violência como problema social sempre que a mesma é indevidamente exercida, talvez porque não tenham sido vitimados por ela, deve-se pensar a respeito recorrendo a Hobbes, não fazendo uso de sociologização classista. Encerrado nos limites da literatura politicamente correta da esquerda, tanto quanto a juventude "burguesa" que ele intenciona criticar sem se dar conta de que compartilham da mesma visão, Oliveira é ao mesmo tempo carrasco ideológico e vítima da ideologia. E os jovens, irão se manter presos ao raciocínio próprio das mentes cativas ou recuperarão os padrões? Sou totalmente pessimista quanto a isso.

domingo, 23 de junho de 2013

Protestos, petismo, esquerdismo: alguns apontamentos


1. Há quem até hoje, passados dez anos do (des)governo petista, não tenha sido capaz de enxergar uma distinção fundamental, qual seja a de que no caso do PT, a corrupção não é mera transgressão da ética política, mas sim um modus operandi sistêmico de cuja eficácia dependeu esse tempo todo o projeto de poder do partido. Daí os quadrilheiros e seus asseclas fanatizados procurarem justificar e até legitimar a prática lançando mão do populismo e do autoritarismo. Tantas vezes a verdade é distorcida e a mentira se torna regra, que passa ela própria a ser assumida como verdadeira, estratagema tipicamente autoritário. 

2. Decorre do item 1 que tal sistematização da corrupção difere o PT de qualquer outra sigla que outrora tenha ocupado o poder. Portanto, é um erro afirmar que existe corrupção no Brasil desde que o país se formou enquanto tal, se com isso se objetiva relativizar a corrupção petista. Compreender a história, dentre outros fatores, requer igualmente a capacidade de identificar os pormenores reveladores. Nas ditaduras, todo o mal é escamoteado sob a pele de cordeiro.

3. Tão logo o Brasil obteve sua independência política em relação a Portugal, o país já recebera o primeiro atentado contra a democracia, situação que desde então é recorrente. Difundir a ideia segundo a qual o antipartidarismo pode abrir brechas ditatoriais requer, no mínimo, cuidadosas ponderações. A democracia nunca se consolidou no Brasil, pois o regime democrático, mais do que qualquer outro, exige uma cultura democrática cotidiana por parte dos cidadãos, coisa que por aqui jamais se viu - oxalá possa mudar a partir de agora. Desde que o PT assumiu o poder, a democracia sofreu golpes ainda mais duros, algo diretamente relacionado ao projeto de poder petista. O cerne do gramscianismo é a destruição institucional, mecanismo verificável na medida em que o Poder Legislativo foi sequestrado pelos interesses do Executivo quando da instauração do Mensalão. É evidente que à chefia do Executivo não recaem todas as responsabilidades, mas a transformação do Congresso em um balcão de negócios completamente inoperante no âmbito das demandas públicas e apenas atuante enquanto mecanismo de conformação aos interesses de poder, foi uma construção do hiperpresidencialismo petista. Compreender a história é, acima de tudo, traçar perspectivas, logo indaga-se: como não enxergar conexões históricas claras entre o hiperpresidencialismo petista e a implantação do Poder Moderador por D. Pedro I quando da primeira Constituição do Brasil em 1824?

4. Trata-se de uma incoerência conveniente que podemos atribuir aos petistas a sórdida tentativa de invalidar as insatisfações e reivindicações que uma enorme parte da população resolveu finalmente trazer à tona. A intolerância à corrupção, à gastança desenfreada e pessimamente planejada do dinheiro público, bem como o repúdio aos privilégios políticos que formam uma extensa rede capilarizada, cujo intuito efetivamente consolidado foi fazer com o que o Legislativo ficasse à mercê do Executivo -  e daí as críticas que se fazem à figura individual do ex-presidente e da atual - transcende a questão de classe e o espectro ideológico.

5. Historicamente, o PT e, diga-se de passagem, toda a esquerda, defenderam com unhas e dentes a bandeira da ética na política. Discurso modificado inteiramente a partir do momento em que passaram da oposição para a situação. Também quanto aos mais diversos assim chamados "movimentos sociais", compostos por minorias sectárias autoproclamadas vanguardistas, visionárias e dotadas de entes politicamente superiores, idênticas no que se refere ao embolorado conteúdo anticapitalista (inclua-se aí o MPL), o apoio sempre se mostrou irrestrito, independente dos meios de ação, todos suspeitos, e dos atos concretos, autoritários, violentos e nada afeitos à pluralidade democrática. Agora que as reivindicações se amplificaram, tanto em volume como em extensão, desvinculadas de aspectos partidários e ideológicos, reflexo direto da exaustão da população em relação a um governo política e economicamente esgotado em função de tamanha incompetência administrativa e obviamente incapaz de justificar uma porcentagem de 36% do PIB sugada com impostos, ao passo que os serviços públicos se mostram tão horripilantes, além da reprodução em escala jamais vista dos privilégios, dos favores e do fisiologismo sem contrapartida em termos de representatividade e agenda política, é execrável a postura de quem ainda se dispõe a encarar o contexto de uma perspectiva partidária e ideologizada. Seria incompreensão quanto à própria história ou, pior ainda, caso de extrema desonestidade intelectual?

6. É possível encontrar um ou outro argumento que permita aos atores sociais a defesa de programas assistencialistas. Não se condena inteiramente o assistencialismo, especialmente em um país de tão alta concentração da renda como o Brasil, todavia, o assistencialismo não pode jamais ser o mote principal de um governo cuja desatenção a políticas de formação de capital humano e infraestrutura é gritante há uma década. O assistencialismo, ao invés de se atenuar, comportamento esperado caso o mesmo fosse eficiente em reduzir a pobreza, se amplia, prova de que seu resultado mais categórico é a perpetuação da pobreza, além de criar um deplorável quadro de dependência. O esgotamento de um modelo econômico capenga, de crescimento vergonhoso, incapaz de melhorar o IDH e, mais recentemente, perigosamente afim com a inflação, se revela inconteste. É fácil topar com os intelectualoides da esquerda repetindo mantras que jogam a responsabilidade da inflação nos "empresários gananciosos", uma superficialidade generalizante. Além do fato de que tantos grandes empresários amigos do rei tiraram proveito do repasto oferecido pela estatização do capital desde que o PT assumiu o poder, os médios, pequenos e microempresários brasileiros sofrem o pão que o diabo amassou diante da avassaladora carga tributária e da burocracia. Fora isso, é quase um crime não prestar atenção ao caos logístico, à gastança desenfreada e às interferências sofridas pelo Banco Central, fatores diretamente associados ao galope inflacionário.

7. A esquerda não está autorizada a defender a democracia, pois diversas vezes assume esse sistema político como um valor burguês. Talvez seja possível encontrar em um pensador como Eduard Bernstein algo que mereça atenção em termos de democracia no seio do pensamento esquerdista. Não por acaso, Bernstein é execrado há mais de um século pela esquerda revolucionária, aquela mesma que costuma colocar as mangas de fora. Toda vez que um revolucionário ousa proclamar afinidades com a democracia, não faz mais do que tentar confundir os desavisados. Limpar-se com a própria sujeira só espalha o fedor autoritário, desnudando um profundo falseamento da história e da teoria política e, quem quer que tenha se embrenhado na leitura de Marx, sabe perfeitamente que a ditadura do proletariado, uma abstração apenas tornada concreta pela tomada de poder por parte da vanguarda partidária, tem como resultado essencial a morte da sociedade perante o Estado autoritário. Que democracia pode surgir daí? O grande Raymond Aron, que estudou Marx à exaustão, deixa uma reflexão importantíssima: passar da ditadura do proletariado, etapa sine qua non o comunismo não se estabelece na teoria marxiana, é no mínimo uma causa das mais improváveis, dado que contrapõe uma etapa anterior na qual o poder, além de fortemente concentrado, é obtido com violência, a uma etapa posterior de completa igualdade, harmonia e inexistência do Estado. A materialização trágica da revolução comunista está explícita em Lenin, em Stalin, em Mao Tsé-tung ou em qualquer outra derivação destes.

Aguardemos...

terça-feira, 18 de junho de 2013

Aristaire defende

Investimento em educação de qualidade, pesquisa, ciência e tecnologia.
Autonomia do Banco Central e ortodoxia monetária.
Autonomia do Poder Judiciário e do Ministério Público. Repúdio às PECs 33 e 37!
O fim dos privilégios da classe política cooptada pela ditadura PeTralha.
Punições severas aos corruptos.
O fim do assistencialismo parasitário e populista. Repúdio ao pão e circo! Repúdio aos eventos esportivos bancados com dinheiro público!
Melhoras nos serviços públicos e projetos viários e urbanísticos.
O liberalismo político e econômico. A democracia e a liberdade individual.
As reivindicações antipartidárias. Repúdio ao vandalismo e aos partidos políticos revolucionários, autoritários e violentos de extrema esquerda (PCO, PC do B, PSol, PSTU e afins)!
Repúdio ao governo federal! Fora Dilma, fora PT!


sexta-feira, 14 de junho de 2013

MPL: mais uma imbecilidade esquerdista fruto do desconhecimento da democracia e do desrespeito à autoridade


É certo que o atual estado brasileiro, mais e mais a cada dia que passa, perde o pouco que ainda resta de democrático. Logo, as fraturas que conduziram o país à ditadura gramsciana terão se estabelecido indelevelmente sobre a sociedade e, em tal situação, apenas o que sobra é o completo caos, como já tem sido observado nesta semana de conflitos entre a Polícia Militar e os manifestantes do Movimento Passe Livre.
Uma das maiores trivialidades da política diz respeito à noção segundo a qual, nos regimes democráticos, a livre expressão de ideias é um direito que deve ser garantido. Ninguém discorda disso, mas o que nem todos levam em conta, lamentavelmente, reside no fato de que as manifestações do livre pensamento precisam necessariamente estar enquadradas dentro dos limites da lei e da civilidade, respeitando assim, não só a questão dos direitos, mas também a dos deveres, isto é, todo aquele que expõe o que pensa, não está isento da obrigação de manter interditos como o respeito pela ordem, a ação pacífica e a preservação do patrimônio público. Se tais limites não forem observados, a exposição de ideias imediatamente se transforma em imposição das mesmas, e aí já não se tem nada mais que possa ser qualificado, sequer minimamente, de democrático. Obviamente, em função do teor de seus atos, o MPL se inscreve totalmente fora do círculo da democracia, a despeito do despreparo da PM.
Não deixa de ser curioso notar o Ministro da Justiça, sr. José Eduardo Cardozo, também ele um dos agentes da ditadura gramsciana no Brasil, vir a público em defesa da observância de princípios democráticos, quando se sabe que não somente os representantes do MPL, mas todo jovem doutrinado sobre os alicerces da frágil educação brasileira, deixada a cargo da esquerda e de suas excrescências marxistas e pós-modernas, não passa de mero reprodutor das imbecilidades difundidas nas escolas, nos cursos pré-vestibulares e nas universidades. Essa gentalha inculta, que leu muito pouco sobre Marx, - ou não leu nada - opera da maneira mais superficial possível com os conceitos de revolução e justiça social, somando a essa tosca ideologia comportamentos de fundo anarquista, tradição política que, inclusive, se forjou em oposição ao pensamento de Marx no século XIX. Aqui, não posso deixar de remeter às ideias do anarquista Foucault, que atribuía à força policial o objetivo único e exclusivo de reprimir, ao mesmo tempo que era um entusiasta da teocracia iraniana do Aiatolá Khomeini, vista por ele como renovadora e libertária.
Foucault virou cult nas academias brasileiras, daí não ser surpreendente verificar a incongruência do pensamento de esquerda em nosso país. Não adianta nada tentar reprovar a gentalha do MPL, a mesma que é a favor da liberação da maconha, que já promoveu ocupações arbitrárias em diversas reitorias universitárias, que realiza festas semanais movidas a pancadão, álcool e drogas no interior do campus Monte Alegre da PUC/SP, que acredita em socialismo, fazendo apelos à democracia. Conheço bem esse pessoal, que vive às custas dos pais e não passa muito tempo sem se deleitar com alguma bugiganga proporcionada pelo capitalismo massificado. É gente que não sabe o significado de democracia, simplesmente porque a democracia de Aristóteles, de Tocqueville, de Josef Schumpeter ou de Norberto Bobbio jamais lhes foi ensinada por seus professores esquerdistas. Caso possuíssem uma mínima ideia a respeito das reflexões dos mestres, estariam protestando contra aquilo que realmente afundou o Brasil, já há um bom tempo, entretanto, democracia na concepção dessa gente, é gritar mais alto, bater mais forte, apanhar também, já que faz parte da luta, e tentar impor ideias com base na intimidação e na violência. Eles não estão nem um pouco preocupados com questões públicas.
É um paradoxo que estes grupelhos, anarquistas por um lado, mas sempre contando com o apoio de partidos nanicos de extrema esquerda, para os quais a busca de representatividade nunca importou, sendo mais fácil agir na ilegalidade e na incitação ao ódio, não saibam diferenciar autoritarismo de autoridade. Como todo democrata, odeiam o autoritarismo, mas se posicionam a uma distância abissal de quem defende a liberdade, pois não respeitam autoridade nenhuma, bem como não buscam argumentação racional, tampouco o debate no intuito de encontrar possibilidades de mudança positiva. Quem afirma ser possível negociar com esses movimentos, não sabe coisa alguma sobre suas ideias e intenções, Daí vem outro paradoxo: ao mesmo tempo que recorrem à abstração do "social" na tentativa de legitimação de seus atos, são incapazes de perceber a necessidade de lidar com a existência da autoridade como elemento de resguardo e espaço de ajuste para as diferenças inerentes aos agentes da sociedade, portanto, pautam sua forma de agir segundo impulsos bestiais e ególatras.
Frequentemente o governo brasileiro vem tomando medidas autoritárias que consolidam o gramscianismo no país. A sanha de poder continua, com projetos claramente antidemocráticos tramitando no Congresso e no Executivo. A corrupção é sistêmica, ao passo que os privilégios da classe política e do empresariado cooptado com favorecimentos virou regra no cotidiano do país. Não se verificam protestos contra estes males de extrema gravidade que afetam a nação, talvez porque a complexidade de tais circunstâncias, incluindo-se aí o populismo que gera catarse, sejam áridas demais face à ignorância de tantos. Nunca é demais lembrar que o caos, a mistura de agitação irresponsável e violência com política, além da reprodução do ódio em escala cada vez mais abrangente e banalizada, são sinais indicativos de que coisas ainda piores podem estar por vir. Não é exagero vislumbrar que o Brasil está à beira de um desastre político e social completo, fato capaz de levar a sociedade a um acentuado estado de exceção. Talvez uma ponderação simples possa ser mais útil para finalizar: aquilo que é público nada tem a ver com gratuidade, afinal, a verba que custeia as despesas públicas é paga pelo contribuinte; o dinheiro não cai do céu; quem paga imposto e não tem retorno, como é o caso neste país, no qual ao invés de beneficiar as pessoas, o dinheiro pago em impostos serve para bancar assistencialismo e privilégios, deveria protestar contra isso, mas não levar adiante a crença ingênua de que o que é público vem de graça.

terça-feira, 4 de junho de 2013

O remador - um conto


Despertou. Rapidamente, fez a refeição matinal, em seguida, escovou os dentes, se aprumou e tomou seu destino. Mais um dia, mais uma leitura: um texto clássico a respeito das relações entre História e memória, de autoria de Jacques Le Goff. Um sábado, uma instrução densa e árida, porém, extremamente esclarecedora e parte fundamental na construção do entendimento daquele campo do saber. Exatamente ali, teve um ponto de partida precioso que volta e meia serve como reminiscência. Goethe ensinou a importância de guardar as coisas importantes.
Algumas situações idênticas àquela se repetiram. Outras, se assemelharam na forma, mas com a grande diferença que nem sempre seus conteúdos se revelaram dignos de valor intelectual. E foi à biblioteca em busca do Carnaval de Romans, escrito por Emmanuel Le Roy Ladurie, leitura que jamais marcava presença nos programas de estudo. Obra soberba! Também a partir de certo esforço investigativo, descobriu outros autores de grande quilate, todos eles formadores do intelecto. Todos eles caracterizados por algum grau de confidencialidade.
Logo notou que uma das vantagens do individualismo é que ele permite arcar inteiramente com as responsabilidades, tomadas de decisão e eventuais fracassos e, ao contrário do que pudesse transparecer, os sucessos obtidos eram saboreados no íntimo, na interioridade, não como o egoísta, que carrega a necessidade doentia de externá-los para sua plateia. Foi Antífon quem afirmou que para um homem dotado de alma grande, a opinião solitária de um único homem bom vale mais do que a opinião de uma multidão. Sabia, evidentemente, que os sucessos poderiam e deveriam ser compartilhados, mas longe do ambiente no qual haviam sido conquistados e das pessoas cujas posturas não eram compatíveis com o que se espera da nobreza de caráter e do princípio da liberdade de pensamento. Cedo aprendeu ser de bom alvitre manter-se afastado das vaidades, do olho gordo, da presunção e das intrigas, males corriqueiros daquele meio.
Cotidianamente, observou tantas condescendências serem oferecidas, tantos erros serem desconsiderados, tanta falta de compromisso ser enaltecida. Fez adversários e os confrontou. A troca de ideias faz parte do jogo intelectual e engrandece, mas em ambientes nos quais um grande número de gente não leva esse aspecto em conta, o que se tem como regra e resultado é a máxima do judeu galício: "quando alguém está honestamente 55% certo, isso é muito bom e não faz sentido discordar; se alguém está 60% certo, isso é maravilhoso, sinal de boa sorte e essa pessoa deve agradecer a Deus; mas o que deve ser inferido sobre estar 75% certo?; os sábios diriam que é algo suspeito; bem, que tal 100% certo?; quem quer que diga que está 100% certo é um fanático, um criminoso e o pior tipo de crápula". O fanatismo pela religião laicizada estava na raiz dessa maneira de pensar. Invariavelmente, esse era o panorama e, quem ousasse discordar 1% que fosse, estava fadado ao patrulhamento. Desconfiou que alguns conhecidos debandaram em função disso, suscetíveis a fraquezas do espírito. Nada que o desviasse de seu curso, todavia.
Algo que o irritava profundamente era o excesso de centralização, manifestado por meio do mais típico estilo burocrático. Reuniões, comitês, comissões, equipes, ..., regularmente havia ocasiões e eventos nos quais um grupelho de séquitos atingia o delírio quando seus respectivos nomes apareciam estampados em banners, folhetos ou folders. E durante tais acontecimentos, faziam pronunciamentos enfadonhos sentados atrás de alguma mesa rotunda de madeira escura, repleta de marcas que denunciavam o desgaste, ou meramente se postavam atônitos e de olhos esbugalhados a escutar a ladainha de doutrinários que levavam em excelente conta, como não poderia deixar de ser. As reuniões formavam um capítulo à parte: logo verificou que em determinado estágio esse tipo de encontro não se dissociava da própria prática a que se destinava aquele ambiente, se bem que, paulatinamente, a questão da destinação do espaço se tornava menos clara. Antes mesmo de ter atingido o momento em que as reuniões viravam regra, já vislumbrava que aquilo não lhe cairia nada bem. Desiludia-se.
Em certa época, se deparou com um sujeito vindo do exterior que perfazia o arquétipo visto como desejável naquela casa. Era dos que costumeiramente procuravam enxertar a moral em aspectos puramente técnicos, mas que não agiam de maneira a respeitar a moral nos casos em que ela, de fato, deveria ser observada. Espécie comum. Os critérios do tal sujeito eram confusos e nem sempre pesados na mesma medida. Se viu prejudicado e vítima de grande incongruência, indo então em busca de reparações. O prejuízo foi sanado, mas não sem que tenha tido que arregaçar as mangas, atendendo a uma condição. Nunca mais deixou de refletir que não poderia ter aceitado aquilo, já que o erro não fora seu. Estudos muito mais dignos de credibilidade têm se encarregado desde então de colocar as coisas em seu devido lugar. Faz parte. Outras vezes teve que suportar quem dedicasse suas horas na tentativa de misturar tudo, de confundir, de inverter e, propositadamente, não levar a lugar nenhum, mas não importava, afinal, tudo era a mesma coisa. Surpreso, viu que muitos se convenciam. Irritava-se, até que começou a perceber que poderia tirar proveito de tamanho antagonismo de princípios. Aprendeu muito, ficou conhecendo como lutar contra a perfídia daquele discurso. Um monstro do saber, nascido em Turim, afirmou que aprendeu muito mais com aqueles em relação aos quais mantinha grande distanciamento do que com quem guardava afinidades. Boa lição!
O mérito, que jamais teve qualquer relação com a disponibilidade de tempo para desenvolver estudos e habilidades, mas que, diferentemente, de acordo com a vontade e com a imaginação, abriu caminhos para a conquista de realizações, o premiou. Tratava-se de uma questão de saber farejar o tempo concedido pelo próprio tempo, conciliar deveres e,... aproveitá-lo! Adquiriu a noção de que o tempo necessita ser vivido e experienciado, o que só pode ser conseguido caso haja diálogo constante com ele. Ele informa quando e quanto, cabendo ao sujeito fazer bom uso de tais brechas. Notou que outros, que não eram capazes de lidar com o continuum aparentemente rotineiro e tedioso, forjavam artifícios na tentativa de escapar dos questionamentos e dilemas impostos pelo tempo. Enganavam a si mesmos e mergulhavam em um tempo ardiloso e vampiresco, falsamente longo, império do desperdício e da inutilidade, quando não de coisas ainda piores.
Perspectivas se delinearam após este rito de passagem. Fitou-as, sem muita pressa, contudo, as dúvidas não se dirimiram. No fundo, as condições apresentadas pecavam pelo cerceamento, pelo privilégio que conferiam aos apaniguados, verdadeiros exemplos miloszianos de mentalidade cativa. As pílulas Murti-Bing, os Ketmans, os Alfas, os Betas, os Gamas e os Deltas tomavam conta da estrutura autoritária que eles próprios haviam criado, ou na qual foram envolvidos, e que mantinham com o objetivo de controlar as ideias. Nesse cenário, era impossível construir, ou até mesmo trazer à tona contribuições esquecidas. Preferiu renunciar. Voltou-se na direção de outras paragens, mais pragmáticas. Lidou com as idiossincrasias daquilo que se ofereceu, às vezes bem, às vezes mal. Vivenciou e experienciou o tempo, sem deixar de voltar às hipotéticas perspectivas do passado, entretanto, as mesmas dúvidas continuaram impedindo que alguma escolha fosse feita. É possível até que as dúvidas tenham se expandido, mas isso não foi tomado como motivo para qualquer aflição, afinal, o tempo acabaria por desnudar a trilha a ser seguida, bastando manter a percepção aguçada a fim de identificar oportunidades. Veio, viu, venceu..., perdeu, e venceu novamente.... Remou contra a maré. Vive. E rema.