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segunda-feira, 30 de março de 2015

A importância de conhecer Marx... para se libertar dele


Em recentíssimo artigo publicado na Folha de São Paulo, Reinaldo Azevedo, evidentemente em tom de ironia, afirmou que petistas devem ler Marx. Em O 18 de Brumário de Luís Bonaparte o filósofo de Trier, lá pelas tantas, escreve que o monarca em questão "havia se tornado vítima de sua própria concepção de mundo". A "história se repetia como farsa", até que a revolução proletária, de acordo com o entendimento do autor, estivesse em ponto de bala para colocar as coisas no rumo certo.
Diante de mais uma gritante incapacidade do PT de perceber o que se passa debaixo de suas fuças, Azevedo recomenda aos partidários da sigla a leitura marxiana a fim de que abram os olhos, mas mesmo que o façam, tal não irá ocorrer - nisso reside a ironia -, pois no esquematismo dual e maniqueísta de Marx, como também é válido para os petistas, não existe o "homem médio", que não é nem aquele opressor que reage, tampouco o proletário que revoluciona. É, ao contrário, o verdadeiro sujeito da história, aquele que constrói a civilização e a repõe quando o caos se instala. Esse cidadão comum, cuja ausência na obra de Marx já era denunciada por Bakunin, vicejou livremente nos países que adotaram o capitalismo e o caminho político parlamentar, desmentindo categoricamente as profecias do teórico comunista.
Se, por um lado, o viés irônico do artigo de Azevedo está muito bem colocado, por outro, não há ironia alguma em aconselhar não só petistas, mas esquerdistas em geral, a lerem aquele que consideram como seu mestre intelectual. Sempre defendo a ideia de que algo em torno de sete a cada dez esquerdistas nunca leu nada que vá muito além do Manifesto Comunista e do 18 de Brumário..., obras curtas, dotadas de linguagem direta e fácil compreensão, o que pode ser comprovado quando se debate com os mesmos. A ignorância dos próprios esquerdistas em relação a Marx explica, em certa medida, porque ainda se atrelam ao marxismo e se posicionam como sendo de esquerda. É impossível concordar com Marx se a pessoa, de fato, conhece Marx. Quem o descarta depois de conhecer seu pensamento presta um bem inestimável a si mesmo e à humanidade, embora não se trate de tarefa nada fácil para quem continua acreditando que o esquerdismo tenha algo de positivo.
A título de ilustração e de amostragem, certa ocasião, durante um debate a respeito da Revolução Russa de 1917 com uma professora marxista-leninista, perguntei a ela se a promessa do comunismo como capaz de instaurar o melhor dos mundos não se apresentava falaciosamente e contraditoriamente à ditadura do proletariado, etapa anterior à extinção do Estado (e da sociedade), porquanto um regime ditatorial, com centralização de poder e consequente necessidade de planejamento, se manifesta em total contraste com o télos comunista. Ela me respondeu, com a pretensão de ser esclarecedora, dizendo que a ditadura se faria por toda uma classe, o que me fez notar seu desconhecimento não somente em relação a Marx, mas também sobre Lenin. O primeiro, restrito aos limites de um materialismo tosco, não deixou nenhuma teoria convincente das classes, já o segundo, o que é pior ainda, além de defender a revolução sem a necessidade do proletariado, a empreendeu na prática. Lenin levou a Rússia à guerra civil, massacrou os sovietes, estatizou a economia e nem por um único momento mostrou qualquer reticência ao comandar o genocídio de todos aqueles que julgava como elementos contrarrevolucionários, inclusive artistas e intelectuais. Nem mesmo se depois disso o paraíso terreno estivesse completo (verificou-se o total oposto disso) o derramamento de sangue seria justificável. Esquerdistas, contudo, parecem enxergar no ser humano apenas um meio para a revolução violenta... 
A morte de Lenin em 1924 fez de Stalin o líder da já existente URSS, escancarando de vez o totalitarismo comunista. A professora, do mesmo jeito que todos os marxistas atuais, afirmou que o ditador georgiano desviou a revolução marxista-leninista de seu curso. Esse devaneio faz pressupor que mesmo diante das tantas tragédias que sempre estiveram lado a lado com a engenharia social comunista, um dia, em um futuro qualquer, a coisa ainda pode dar certo... Se nos saíssemos lembrando que a ideia de conduzir a sociedade por um curso pré-determinado por si só é totalitária, já não seria necessário ir adiante. Acontece que, além de tudo, o totalitarismo de Stalin não representou um rompimento com Marx coisíssima nenhuma! Se não fosse por aquilo mesmo de genocida e totalitário que Lenin promoveu desde o advento revolucionário, também nesse aspecto é possível levantar os equívocos da teoria de Marx para proceder com correção à análise histórica. Assumindo a primazia da base material-econômica sobre a superestrutura, exatamente como Marx pensava, tem-se que o poder emanado da figura de Stalin é um fator político e, por conseguinte, pertencente à superestrutura, logo, subordinada à base material. Ora, considerando que Lenin havia anteriormente consolidado a organização estrutural da URSS, o stalinismo só pode ter sido a consequência direta do que foi plantado a partir de outubro de 1917, caso contrário, uma vez completado o arranjo comunista, cuja estrutura de comando se dá a partir do econômico-material, assim como a perfeita harmonia prometida por tal arranjo, como pensar que o elemento político sobrepujou o econômico? É impossível validar a teoria de Marx ao mesmo tempo em que se tenta negar a filiação marxista do stalinismo. Ou Marx estava errado e não é possível admitir o primado do materialismo histórico - o que derruba por terra seu pensamento - ou o stalinismo manifestou o desfecho de uma teoria que conduz inexoravelmente ao totalitarismo, das duas uma!
Marx, além de não ter estabelecido uma teoria das classes, igualmente se mostrou incapaz de conceber uma teoria do Estado. Em Lenin, o completo desprezo pela via democrática, tributário das teses marxianas, ganhou contornos reais. Stalin foi o resultado natural da aplicação prática do marxismo. Compreender os enganos de Marx é necessário para se livrar de suas ideias sanguinárias, um exercício de sanidade mental, responsabilidade política e coragem intelectual. A despeito da dificuldade que uma mudança de postura política e intelectual envolve, não é inimaginável supor que um esquerdista possa realizar esse tour de force, (muitos personagens já o fizeram). Há que se despir do orgulho e, se é verdade que ao menos uma centelha da dimensão espiritual permaneça como característica da condição humana, ainda que em uma mente esquerdista, qualquer um está apto a se libertar de tão execrável filosofia.

terça-feira, 17 de março de 2015

Política e sociedade brasileiras hoje: breve reflexão


O tempo tem sido escasso e, como se pode observar, as postagens se tornaram bem menos frequentes. Assim permanecerá por período indeterminado, todavia, passo por aqui hoje apenas para deixar breves apontamentos pessoais a respeito da situação político-social do país, como segue abaixo (perdoem-me aqueles que já leram essas palavras no Facebook, de qualquer maneira, o texto foi levemente aprimorado):
Eis que, decorrido mais de século e meio desde que Marx começou a erigir seu sistema, no Brasil de hoje, a burguesia dos textos marxianos se transformou na classe média, pelo menos em se tratando da corja PeTralha (caberia perguntar aos defensores do governo, ou mesmo aos que parecem não se importar com os descalabros da administração federal, que elevou a corrupção a modus operandi, que carrega como marca a incompetência gerencial e que se afina a par e passo com ideias totalitárias: o que têm a dizer sobre os ricos?; por que os mesmos deixaram de ser o alvo do esquerdismo?; acaso os que ocupam os primeiros degraus da pirâmide social deixaram de existir?; ou será que uma ordenação política que não pode sobreviver sem a distribuição de favores, tal como Max Weber explanou, os cooptou em grande parte?!).
Se no plano teórico, a oposição burguesia x proletariado, ainda que se mostrasse uma grandiosa inconsistência a julgar exatamente pelo ulterior desenrolar histórico, permitia a Marx elementos para preencher suas aspirações proféticas, a realidade de tantos países nos quais o capitalismo floresceu virtuosamente revela que o surgimento das camadas médias desmente de modo categórico uma das teses centrais do autor de O capital. O capitalismo baseado nas liberdades individuais, na valorização da criatividade, na geração de oportunidades, no respeito ao sistema jurídico e na disseminação da alta cultura foi pródigo em promover prosperidade. A partir dele é que as nações desenvolvidas seguiram o caminho que lhes conduziu ao desenvolvimento. Não ocorreu, como acreditava Marx, um alargamento do fosso entre burgueses e proletários, ao contrário, houve uma redução de tal diferença com o crescimento da classe média.
No seio das complexidades que estruturam a sociedade brasileira, nem mesmo o partido que ocupa o poder se entende sobre o conceito de classe média (Marx nunca foi capaz de estabelecer uma teoria das classes, mas tão somente se aproveitou dos estudos de François Guizot, sem extrair de tal desdobramentos válidos): por um lado, o PT se jacta de ter "tirado milhões da pobreza", - para aonde teriam ido?! - por outro, através de seus próceres e idiotas úteis, afirma odiar o próprio fenômeno que alega ter ampliado tanto - por essa lógica, que tamanha ingratidão por parte da criatura para com seu Criador! Escusa-se afirmar que o PT não criou classe média alguma, tendo esta se consolidado a partir da estabilização econômica dos anos 1990, a qual, no momento, o partido detentor do poder põe em gravíssimo risco devido aos erros que comete na condução da economia.
O fato, entretanto, é um, apenas um: a reboque de seu marxismo para lá de caduco (Marx jamais atentou para o dinamismo da política e para sua independência em relação ao que chamava de base estrutural), a PeTralhada é incapaz de enxergar a política como processo, como dissenso e como gestão de demandas, logo, só o que resta, é destilar o ódio contra o setor da sociedade que, por estar livre do cabresto assistencialista que assola os mais pobres, assim como fica de fora (também por questões morais) do butim que assalta a máquina pública e promove o repasto dos amigos do poder, é o único com possibilidade de colocar ponto final à doença cancerosa que faz o país sofrer há mais de doze anos. Não é em função, evidentemente, de "consciência de classe", mas simplesmente por um arranjo social e político nefasto criado, aí sim, pelo PT. Não se trata, tampouco, do "nós contra eles", também um expediente político tipicamente totalitário. Não, um país que deseja o verdadeiro desenvolvimento requer que seu governo administre para todos sem lugar para populismo assistencialista e para cooptação.
Não nos calaremos!